terça-feira, 27 de setembro de 2011

De outro planeta.


O amor não controla seu desequilíbrio ou a própria recessão. Eu tenho notado que no namoro, a mulher não economiza elogios sobre o namorado às amigas: "Nem acredito, ele é perfeito""Não sei como ele me escolheu""Estou vivendo um paraíso". Ele é de outro planeta ainda. Ela não desperdiça tempo: enfeita, superfatura cada frase. Provoca inveja sem querer. As colegas passam a se perguntar o que ele tem. Claro, ela desperta a concorrência. Confessa que ele é "incansável", "um atleta na cama", e nem entra detalhes porque tudo já é dito com o brilho dos olhos. Não é questão de falsa modéstia. Não há modéstia mesmo no início. Período de transe e encantamento repetitivo. As declarações são as mesmas e parecem novas.
Quando a relação se firma, a mulher descobre que ele não é de outro mundo tão distante assim. E troca de movimento: do impressionismo para o realismo. Os defeitos são identificados acima das qualidades. Com medo de fazer propaganda demais do namorado, investe em ataques sutis ao seu valor. Na mesa de um restaurante, dirá - sem contexto - que ele dorme depois da transa. Capota. O fundista sexual é rebaixado a dorminhoco. Comentará em seguida que não recebe flores há séculos (o mito do romântico foi ao ralo), e de sua inabilidade em escolher suas roupas, sempre em tamanho menor ou maior.
Não é questão de sinceridade, é exagero de crítica. Confunde a época de analisar a convivência com aspereza. O homem se percebe drasticamente diminuído - poucos sobrevivem, alguns preferem terminar. Transforma sua insatisfação, muitas vezes pequena, num debate público, tornando o problema bem maior do que é e esquecendo que seria possível resolvê-lo numa conversa a dois. Ao desvalorizar o passe de seu namorado, afasta com razão qualquer mulher de perto dele, isso ela consegue. Mas também se distancia dele. A ponto de se convencer - secretamente - que ele não mais serve. 

O amor é medida. Não mudar as palavras, controlar sua força. Ser natural, cuidando para não ultrapassar o respeito. Na linguagem, um toque pode virar tapa que pode virar soco.
Relação não é falar tudo, a franqueza ilude, é falar o que se precisa. E deixar que um pensamento se encontre com outro na telepatia. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Eu quero mais, eu mereço mais.


Não sei se eu me arrisquei demais, talvez eu apostei muito em você. Gastei todas as minhas moedas contigo e não sobrou nenhuma pra eu me reconstruir. Não estou arrependida, não estou chateada, nem triste, só estou atordoada, porque eu te amo. Eu corri, rastejei, pulei obstáculos, superei meu orgulho, só pra estar com você.
Tenho que acreditar menos no que você fala, tenho que acreditar mais em mim. Que eu posso mais, que eu mereço mais. Mereço mais de você, não de outro. Perceba o medo de amar. Medo de se entregar, medo de se envolver, de virar passado antes de virar futuro. O amor é incerto, exige muita responsabilidade da gente. Devia existir uma profissão para quem sabe amar, com salário, ticket alimentação e tudo. Se inclui também preferências. Preferência de banco exclusivo em transporte público, fila preferencial no motel, meia entrada em filmes românticos, e, um último mas não menos importante que é não sofrer. Amar é sofrer, sofrimento amadurece, amadurecimento é aprender a viver sozinho, e dá pra viver sem amor?
É como uma droga, quanto mais experimenta, mais você o deseja. É também como uma prisão, você quer escapar, mas precisa ser punido pelo seus atos.
Acho que o segredo não são os valores de cada um, e sim quanto vale os dois juntos. Quando é desigual não é amor, é dor.
Tudo bem, eu posso até achar que eu sou muito pra ti, e que tu é muito pouco pra mim. Mas é desse pouco que eu preciso, é esse pouquinho que me completa. Não é só minha boca que diz, meu corpo chama teu toque, meu coração pede você. Eu quero mais, eu mereço mais de ti. Mas eu tenho medo que no meio dessa relação eu me perca, que a menina que eu tenho dentro de mim está com você, medo de você me roubar de mim. Medo do tempo levar você, e um dia eu te olhar e não te reconhecer. Não quero ter que olhar pra você e me arrepender de tudo o que eu fiz, e pensar que poderíamos ter o mundo inteiro, e não tivemos.