quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Viva-Voz.


Vivo reclamando que minha mãe atrapalha meu relacionamento. Jantava na casa dele quando minha mãe me ligava, ao toque de "Fuck You" da Lily Allen, atendo o telefonema da minha mãe. Ela nem disse oi, disse qualquer coisa pra testar o microfone do celular. Falando tão alto, que meu namorado até ouviu o tutututu. E a briga continuou. Sempre que uma mãe desligar o telefone na cara da filha, a filha vai fechar a porta na cara da mãe.
Fiquei pensando comigo mesmo: "Ela está ferrando com meu namoro? Ou ela vem me ajudando?" 
E percebi que é ótimo, não existe namoro sem oposição. Ela entusiasma o relacionamento, eu preciso da cumplicidade dele para enfrentá-la. Pensando assim, conclui que temos um inimigo em comum, nossos pais. O amor cresce com resistência. 
O que seria de Romeu e Julieta sem ódio familiar? Imagine a família Capuleto convidando Romeu para um churrasco no domingo? Acabava a atração de Julieta na hora de servir a linguiça e o coraçãozinho de galinha. Ele se tornaria um irmão, manso e amistoso como uma salada de batata. Contrariar é aumentar a expectativa e fortalecer os segredos do casal. Sem atrito, não haveria serenata, encontros fortuitos e a insônia pela chegada de um mensageiro na peça de Shakespeare. Não restariam dificuldades, nenhuma prova de amor, a trepadeira permaneceria intacta no jardim. Tudo acabaria com comentários futebolísticos entre o sogro e o genro na frente da televisão. 
Sabe como minha mãe terminaria com o meu namoro? Ela chamaria o Yuri para uma conversa e diria: "Estou feliz que você está cuidando da minha filha, conte com minha confiança, sinto que é a pessoa ideal, há muito tempo eu aguardava um cara sério e comprometido. Já estou economizando dinheiro para fazer uma grande festa de casamento e toalhas com as iniciais de vocês."
Agora toda vez que eu visito o meu namorado, atendo ao telefonema da minha mãe ao viva-voz.  

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