"Vejo você passando e a mesma coisa acontece, o mesmo tremor nas minhas mãos. Me coloco logo atrás de uma vitrine pra poder ver você caminhando pro colégio, ou pro metrô. Eu ainda não sei aonde você vai de manhã. Não sei mais quantas vezes eu fiquei aqui nessa esquina, esperando você passar. Ás vezes seu pai dá carona, e tudo que eu consigo é ver você por um instante, ou um pouco mais se o sinal estiver fechado. Cada dia eu prometo que vai ser diferente, que eu vou juntar a coragem toda que eu nem tenho e falar com você. Penso em todos os jeitos de começar uma conversa, desde os mais idiotas até as coisas que nem eu acredito que fui eu mesmo quem pensou. Penso em coisas como dar flores a você e dizer que elas passam vergonha ao seu lado, mas alguma coisa dramática, ser atropelado na sua frente, sei lá, e talvez assim a gente ficasse se conhecendo. Penso em lhe dizer que hoje está uma manhã linda e que eu adoraria caminhar com você até o seu colégio, que talvez a gente pudesse só conversar, sei lá, falar do tempo, falar do último disco da sua banda preferida, que eu também comprei um só pra poder imaginar você ouvindo. Mas eu sei que não vou conseguir, porque eu sou tímido demais, porque eu vejo você saindo com alguns garotos depois da aula, e eles sempre são do tipo que faz esportes, que surfa em Maresia, em Saquarema, em Garopaba. Daqui a pouco vão ao Peru, ou pro Hawaii, e vão ganhar um Vitara e você vai passear com eles.
Eu sou muito diferente deles e acho que não ia fazer nenhum sucesso com você ou suas amigas. Será que algum deles já escutou Sonic Youth? Algum deles já leu os poemas do Fernando Pessoa? Você já leu os poemas da Sylvia Plath? Será que eu poderia ler um deles pra você ou você ia achar isso tolo?
Você é uma rainha pra mim, e eu fui me apaixonar logo por você. eu devia ter olhado para o outro lado, pra alguém que me olhasse, mas alguma coisa aconteceu e eu fiquei assim. Lá em casa, minha mãe me olha e fica preocupada. Pensa em por que eu ando perdendo peso, pensa que eu posso estar usando drogas pesadas, sei lá o que mais pensa, só não pensa o óbvio. Que eu vi esta garota e, desde que isto aconteceu, só consigo pensar nela, olhar para ela e mais nada.
Acho que isso não é coisa pro nosso tempo, é coisa para aqueles poetas antigos, que ficavam sofrendo e pegavam turbeculose e morriam de amor. Hoje a gente sofre um pouco, entra no primeiro McDonald's e, quando sai, já não sente nada. Só que eu não sou assim.
Você passa e segue com o seu jeito de caminhar. Você não olha para o lado, não vê ninguém. Mesmo que eu seguisse você de perto, você não veria. Essa roupa de hoje é nova. Você ficou muito bem nela, mas você fica sempre bem, até mesmo nas quintas-feiras, quando tem aula de Ed. Física e vem de agasalho e tênis. Tive que dizer pra garota que eu estava namorando que não podia sair com ela. Bebi 'Jack Daniels' pela primeira vez e acordei no pátio da minha casa, com uma dor de cabeça horrível, achando o mundo um péssimo lugar. Tudo isso por você, que nem sabe que eu existo. Bina, é assim que seu pai te chama e sua amiga também, aquela de cabelo longo. Não pare sua vida por saber que tem alguém te observando. Eu amo o seu jeito movimentado de ser, de não se importar com as pessoas ao seu redor. Um dia, quem sabe um dia, seja diferente e nos conhecemos, viremos melhores amigos, em seguida, melhores namorados. Se não houver nada disso, quem sabe eu morra de amor, assim como os poetas da época. Talvez você mereça um cara menos trouxa e mais profissional. Um cara bem diferente de mim."
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